Mandacaru, 1951
Dimitri Ismailovitch, (Ucrânia-Brasil, 1892-1976)
crayon e pastel sobre papel, 54 x 36 cm
O Cacto
Manoel Bandeira
Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária:
Laocoonte constrangido pelas serpentes,
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o nosso seco Nordeste, carnaubais, caatingas…
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.
Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro horas privou a cidade de iluminação e energia:
– Era belo, áspero, intratável.
Petrópolis, 1925
Em: Libertinagem, Manuel Bandeira, Global Editora, São Paulo, 2013






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